O Pudor na Arte e o Queer Museu

Só quem desconhece a História da Arte e da Literatura e a dinâmica própria do teor afrontoso e provocativo que é intrínseco à cultura artística pode chamar o Queer Museu de particularmente degenerado. Em que pese a compreensão por vivermos em um país pobre de terceiro mundo, ignorante, que lê pouco, é muito religioso e com uma casca moral conservadora, há que se deixar claro que a Arte não cabe nessa caixinha do Sacro-Império do século XIII na qual estão tentando encaixá-la.


Assim como o ato de comer, dormir, brincar, lutar, caçar, cantar, a sexualidade sempre esteve presente nos conteúdos artísticos.

Diferentes povos e culturas retratavam cenas variadas de nudez, sexo e sexualidade buscando emitir tipos variados de mensagens.

Obras famosas e referenciadas, em museus ilustres da Europa não fugiram da regra, tampouco. Vejamos algumas:

Heinrich Losslow - The Sin, 1880 - Louvre, Paris

Pablo Picasso - La Douceur

Octave Tassaert - Le Femme Damnée, 1859 (óleo sobre a tela)

A Dream Come True - Alexandra Rubinstein

Paul Cézanne - Lot and his daughters, 1622

Saturno devorando a un hijo - Francisco de Goya, 1819

Ercole e il Cinghiale di Erimanto - Vincenzo de’ Rossi, exposta no Palazzo Vecchio desde o final do século XVI

Tivemos lindas interpretações da cena de sexo entre Leda e o Cisne por diferentes artistas:

Michelangelo Buonarroti - Leda e o Cisne,  1535

Francois Boucher - Leda and Swan, 1740
Paolo Veronese - Leda et le Cygne, 1580



Leonardo da Vinci - Leda e o Cisne, 1507

Le Sommeil - Gustave Courbet (1819-1877)

Robert Lenkiewicz - Lorraine Talbott with Paul Abbott

L’origine du monde - Gustave Courbet (1819-1877)

Esta pintura possui uma história interessante. Em 1821 a Santa Inquisição abriu um processo contra Francesco de Goya por considerar La Maja Desnuda de 1792, uma obra obscena e pecaminosa. O artista só se livrou quando conseguiu contornar a situação pintando La Maja Vestida de 1805.
Francesco de Goya - La Maja Desnuda, 1797
Francesco de Goya - La Maja Desnuda, 1805

Octave Tassaert - Die eifersüchtige Katze, 1860

Robert Lenkiewicz - Man and woman

Elderly Lovers - Robert Lenkiewicz


Lucian Freud I x Marcello Crivella, rs

Robert Lenkiewicz - Moira with Wolfe

Loth and his Daughters - Peter Paul Rubens

Van Everdingen - Bacchus en Ariadne, 1660

Andando pelas ruas da Europa, você ficará impressionado ao olhar para postes, pontes, castelos, prédios históricos, igrejas e observar gárgulas impúdicas expondo nudez por toda parte. Vejamos algumas dessas imoralidades:

Gárgula impudica in Church Matriz de Caminha

Gárgula impudica da Sé de Braga, Portugal

Gárgula impudica Catedral de Amiens, França

Gárgula impudica Catedral de Fribourg, Brisbau. Alemanha
Gárgula impudica bico de água in Lyndon, Leicestershire



Gárgula impudica - séc. XV. Bruniquel. França

Gárgula impudica - Gárgula Sé da Guarda, Portugal

Gárgula impudica - Gárgula in St. Pierre de Dreux, França

A Arte é forma Estética como método alternativo de comunicação e interação social em que o codificador emite mensagens aos receptores através de elementos variados (músicas, teatro, danças, performances, esculturas, pinturas, cinema, literatura, etc), geralmente transmitindo informes que precisam ser decodificados pelos receptores. A Arte é Linguagem e Comunicação, mas transcende ontologicamente a superficialidade técnica da Linguagem oral, escrita e/ou corporal. Assim sendo, em grande parte, a extração de sentido da mensagem da Arte é deixada em aberto à interpretações pelo emissor ou simplesmente não é conhecida, mas em algumas, o emissor faz questão de explicar sua própria obra já no momento da criação ou a torna pública a posteriori. Sendo esta, vinculante e, portanto, com horizonte de sentido restrito.

O fio condutor que explica a existência da Arte é a transfiguração dessa Linguagem e Comunicação em sentimento e sensação. Assim, as diferentes expressões artísticas - vou falar das pinturas e das músicas aqui para restringir o vasto campo artístico - visam transmitir algum sentimento do emissor ao receptor. Na tela Relatividade de Escher, por exemplo, o pintor exibe uma série de escadas na diagonal e na vertical cruzando-se de maneira desconexa, com pouco sentido. O objetivo da tela é claro: causar confusão no receptor que tenta interpretar a tela. N'O Grito de Edvard Munch, o pintor tenta traduzir o sentimento de desespero e impacto. A tela Abaporu de Tarsila do Amaral representa trabalhadores depressivos que acabam desprovidos de pensamento crítico (daí a cabeça minúscula) com mãos e pés grandes para mostrar a limitação a que essas pessoas eram submetidas em trabalhar muito, sem pensar. Obscenas de Heinrich Losslow visa causar um sentimento de revolta, etc...

Na música (outra forma de expressão artística) não é diferente. Música é a combinação de sons e silêncios de uma maneira organizada. Pra ser música, basta ter melodia, harmonia e ritmo, portanto, aqueles que olham para músicas que odeiam e entendem que aquilo "não é música" ou "não é música de verdade", não estão pensando direito... ou melhor, estão usando a falácia do verdadeiro escocês. As músicas - e, portanto, os estilos musicais - existem para causar sensações, são sugestivas e assim como a própria Linguagem são performáticas. Assim, genericamente, os cantos gregorianos, ou mesmo Wolfgang Mozart, Antonio Vivaldi ou Arcangelo Corelli encaminham o receptor para a elevação espiritual. O rap de Facção Central procura descrever a realidade dos moradores de favela. O MPB de Caetano Veloso do século XX possuia forte conotação política. O funk de Anitta busca despertar sensualidade e êxtase com sentimentos ligados ao tesão. Músicas eletrônicas como Jetta, Calvin Harris ou Daft Punk buscam fazer com que o receptor consiga se desconectar de seus próprios pensamentos e pular numa have ou em uma balada sem pensar em nada. O sertanejo de Luan Santana busca falar da sofrência e de romances pão-com-ovo típicos das sociedades colonizadas pelos bálticos e que sofreram influência do romantismo. As Baladas e os Trovadores da baixa idade média, como as de Guillaume de Machaut, visavam fazer os receptores sentirem e visualizarem as novelas que descreviam as batalhas dos guerreiros e o contexto católico dos feudos. Uma música como Chão de Giz de Zé Ramalho possui um contexto tão privado que praticamente somente com a explicação do cantor pode ser compreendida em sua totalidade. Johann Sebastian Bach, Johann Pachelbel e suas canções luteranas sacras barrocas do século XVII visam estruturar um imaginário protestante do Sagrado no contexto pós-revolução protestante. Não há como classificar o pianista Robert Schumann como "melhor" do que os tamborins dos índios Ananau do Equador porque a expressão e a apreensão artísticas são fenômenos subjetivos em essência e não é a complexidade das composições que servirá como crivo para estabelecer graus hierárquicos aqui.

Assim, entramos nas conclusões a que o jovem do vídeo certeiramente chega. Claro que é importante ter contato com diferentes nichos de sensações que a Arte provoca. No entanto, os protestos políticos de Geraldo Vandré não são antíteses ao Mc G15. Simplesmente porque os grupos musicais não são concorrentes, eles atuam paralelamente porque um mesmo ser humano é capaz de sentir incontáveis sensações por dia. Se por um lado Jorge Vecilo acerta quando associa a opção recorrente em determinados contextos à músicas que estimulam apenas certas sensações, escolha que provavelmente é condicionada pelo contexto sociocultural de pobreza, por outro, ele erra ao vetar como excludentes, de qualidade duvidosa ou indesejáveis, os estilos musicais que ele detesta porque músicas, assim como pinturas, teatro, esculturas, cinema, existem para tocar um público com uma demanda x e - embora se pretenda a isso - dificilmente conseguirá tocar todas as pessoas, produzindo as sensações que pretende. A geração cult de hoje não foi a primeira a enxergar a produção artística de outro grupo como inferior, sem qualidade ou má... Isso sempre aconteceu na História do mundo porque o ser humano desde a Pré-História age sobre grupos diferentes com imperialismo cultural. Até aqui, nada de novo sob o sol e talvez a solução realmente esteja em seguir o conselho do rapaz do vídeo e curtir aquilo que te desperta sensações desejáveis, quanto àquilo que te desagrada, simplesmente ir viver num deboísmo usando seu fone. Bom carnaval pra quem gosta.

Leigos em Arte desconhecem que Arte "não é a Coisa", Arte é uma representação da Coisa. Pegue-se o ultrarrealista La trahison des images de René Magritte, 1929 e você lerá abaixo de um cachimbo: "Ceci n'est pas une pipe (Isto não é um cachimbo)". Oras, claro que não é! Uma pintura retratando uma coisa não é a Coisa. Portanto, uma pintura retratando uma abuso sexual zoófilo, aquilo não é um abuso sexual zoófilo, é mera representação estética.
Achar que uma escultura, uma pintura, um livro de poesia ou de prosa está estimulando a depravação e a destruição da família é relinchar num nível que - como ocorreu com a Declaração de Freud no Congresso de Viena de que a criança tinha sexualidade -, é capaz de unir a perseguição dos conservadores não-nazistas com a dos nazistas - perseguidores daquilo que eles chamavam de Entartete Kunst (Arte Degenerada). Não se pode ler o Marquês Donatien de Sade e encarcerá-lo por depravação como fez Napoleão Bonaparte por considerar que A Filosofia na Alcova era um guia de sexo que incitava à depravação. Não se pode processar Gustave Flaubert porque supostamente Madame Bovary destruía a família. Não se pode assistir a peça Álbum de Família de Nelson Rodrigues e encará-la como uma apologia ao incesto.

Queermuseu — Cartografias da diferença na arte brasileira foi uma exposição artística brasileira apresentada no Santander Cultural e que trazia 263 obras de artistas consagrados no Brasil e no mundo como Alfredo Volpi e Cândido Portinari e também de novos emergentes.
A exposição foi visitada por integrantes do MBL que, chocados, exclamaram que a exposição "só tem putaria, só tem sacanagem" para citar a expressão do youtuber Felipe Diehl (risos). Após intenso tumulto e manipulação nas mídias sociais, quem trabalhava na exposição e indivíduos que visitavam as obras eram agredidos verbalmente e importunados com perguntas como "você gosta de ver pedofilia?", perturbação do ambiente, insistência e militância para filmar as obras e pichações no Banco com frases como "Banco Santander apoia a pedofilia" e "Este Banco é anticristão". Em nota, o presidente do Santander decidiu cancelar a exposição por "preocupação com a integridade das obras, do público e dos funcionários do Santander Cultural".




Para explicar as acusações à Queermuseu, Gaudêncio Fidélis foi convocado coercitivamente a depor no Senado Federal pelo senador pastor Magno Malta, então presidente da CPI dos Maus-tratos Infantis.
A treta pode ser vista aqui:

Cinco das 263 obras foram alvos de críticas, focaremos nas duas mais críticas: a que supostamente faz apologia à pedofilia e a que supostamente faz apologia à zoofilia. Apesar de críticas contundentes, há poucas acusações diretas à obras específicas. A mais contundente, no entanto, se refere às obras de Bia Leite.

“O curador dessa obra, Gaudêncio Fidelis, esse cara deveria estar preso Olha o Satanás no meio (...) Isso aqui é praticamente prostituição infantil" - diz Diehl fazendo alusão ao quadro Criança Viada de Bia Leite.
 
E o que são as obras Criança Viada?

CriançaViada é um site LGBT que requer fotos infantis de adultos LGBT enviados voluntariamente próprios LGBT e os associa a algum meme. "enviam fotografias antigas enquanto crianças que tinham traços/trejeitos não heteronormativos; com a intenção de celebrar esses traços, que durante toda a infância foram motivo de xingamentos e violência" - Bia Leite.

"Nós, LGBTs, já fomos crianças. Esse assunto incomoda porque nunca viramos LGBTs, nós sempre fomos. A impressão que se quer passar é que um gay já sai do útero, adulto. Ou sai hétero e vai virando outra coisa e é por isso que pessoas rasteiras odiaram a mensagem dessas telas, porque elas exibem o óbvio: que, um dia, gays já foram crianças. Todos devemos cuidar das crianças, e não reprimir a identidade delas ou seu modo de ser no mundo. Isso é muito grave. Sou totalmente contra a pedofilia e o abuso psicológico de crianças. O objetivo do trabalho é justamente o contrário, é que essas crianças tenham suas existências respeitadas. (...) A gente tem que entender que gênero é diferente de orientação sexual e principalmente de sexo. Quando a gente fala de criança viada a gente está falando especificamente de uma fase em que os papeis de gênero não estão enraizados profundamente, porém os adultos – e muitas vezes outras crianças – fazem leituras e são preconceituosas, então a gente precisa falar disso. Não são só adultos que sofrem LGBTfobia, não são só adultos que são agredidos por não seguirem a cartilha da heteronormatividade”.

Portanto, não há apologia à pedofilia alguma na tela, como os burricos desonestos interpretaram. Iuri Giusti, jornalista, travesti e dono das fotos que integram as telas também se manifestou:

"As frases que ilustram as obras da Bia são minhas. Suportei cada ano da escola com meus colegas me batendo, me agredindo, me chamando de Lacraia, de viada, de travesti da lambada, são coisas com as quais convivi e que pertencem a minha história, hoje fazem parte de quem eu sou porque elas me formaram. E hoje eu lembro disso tudo e rio muito com meus amigos, com minha família porque eu consegui superar tudo isso e me doeu pra c... ver algo que eu escrevi, que foi tão lindamente entendido por anos, acabar sendo colocado como apologia à pedofilia por tanta gente inconsequente e desinformada".

Gaudêncio reforça o posicionamento e ressalta o viés de combate ao preconceito contra crianças que não seguem os padrões:

"A obra é feita sob uma perspectiva positiva da comunidade LGBT sobre enfrentar o preconceito, o bullying e todas as questões que dizem respeito à manifestação de gênero. Nunca imaginei na minha vida profissional que uma pintura como aquela pudesse ser atribuída ao caráter de incitação à pedofilia. É uma desconexão, certa parcela da população já aprendeu a usar a acusação de pedofilia para destruir seus inimigos rapidamente, é uma desconexão."

A acusação de "apologia à zoofilia" foi movida por uma interpretação rasteira e/ou desonesta da tela Cenas do Interior II, 1994 de Adriana Varejão.
A tela retrata cenas de sexo entre duas figuras femininas japonesas, uma figura japonesa e um negro, dois homens brancos e um negro e duas figuras masculinas brancas indistintas com uma cabra – esta última imagem, recortada da obra completa, descontextualizada desonestamente e compartilhada sozinha nas redes, - foi a que causou polêmica.
Quadro recortado e compartilhado pelos críticos nas redes sociais, gerando interpretações alucinadas

Adriana Varejão, responsável pelo trabalho, explica:
"busquei jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. Cenas do Interior II é uma compilação de práticas sexuais existentes e consideradas imorais em diferentes locais, algumas históricas (como as chungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. A prática ocorrida atrás da janela, a 180 graus, tenta demonstrar como as pessoas estão dispostas a camuflar bem e a qualquer custo aquilo que elas consideram errado. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta. Esta é uma obra extremamente política, que questiona e critica todo o processo de colonização do país, as consequências da escravidão, além dos diversos aspectos de raças, crenças e culturas. É uma obra histórica."

No catálogo da exposição, o curador Gaudêncio Fidelis escreve que a tela é uma "manifestação crítica diante do processo de colonização do país" e "perturba as relações verticais e eventualmente as horizontaliza (com as figuras deitadas ou reclinadas)". Ele comenta que é interessante notar que muitas das pessoas que fazem uso dessas práticas consideradas execráveis socialmente, são muitas vezes as mesmíssimas pessoas que agem como pilastras da moral e dos bons costumes condenando os gays.

Portanto, não há uma apologia à zoofilia. O que há é uma proposta de reflexão sobre a história da nossa sexualidade.

Uma dia após o fechamento da exposição o Promotor da Infância e da Juventude de Porto Alegre Julio Almeida e a coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões Denise Villela visitaram a exposição para verificar as acusações. Os dois analisaram as mais de 200 obras e identificaram que quatro a cinco peças poderiam ter cunho sexual.

"Fomos examinar in loco, ver realmente quais obras que teriam conteúdo de pedofilia. Verificamos as obras e não há pedofilia. O que existe são algumas imagens que podem caracterizar cenas de sexo explícito. Do ponto de vista criminal, não vi nada. Não há crianças e adolescentes em sexo explícito ou exposição de genitália de crianças e adolescentes. Também não há obras que façam com que a criança seja incentivada a fazer sexo com outra criança." - salienta o promotor da Infância e da Juventude de Porto Alegre, Julio Almeida.

Para o promotor, uma das medidas que poderiam ser tomadas seria colocar essas peças em um espaço reservado. Entretanto, o ECA não faz uma exigência "objetiva" da necessidade da colocação de classificação etária para museus. Cita o caso de outros museus espalhados pelo mundo que não apresentam restrições, apesar da presença de nu frontal ou sexo em várias peças. Um dos mais famosos, lembra, é a Estátua de David, exposta no Museu de Florença, na Itália.

"Vamos analisar tecnicamente a situação para ver se isso constitui violação. Também vamos verificar se os museus têm que entrar em classificação etária como cinemas, teatros e televisão, embora o ECA não faça essa exigência".

Uma grande manifestação foi organizada em frente ao Santander questionando o fechamento da obra. No episódio, um dos coordenadores do MBL entrou em confronto com a presidenciável nas eleições de 2018 Manuela D'avilla.

No dia 20 de Abril de 2018, a exposição foi reaberta pelo Museu EAV no Rio, tendo sido sucesso de público no dia da abertura. Do lado de fora, 30 militantes do MBL e de um grupo chamado Templários da Pátria protestavam contra o acolhimento da exposição pelo RJ, que supostamente fazem apologia à pedofilia e à blasfêmia.


Este não foi o único evento lastimável envolvendo a Arte. Em Setembro, o grupo Direita-MS fez um boletim de ocorrência para apurar outro suposto crime de pedofilia por um quadro exposto em uma sala reservada no Museu de Arte Contemporânea de MS.
O quadro acusado é pintura acrílica da artista plástica Alessandra Cunha parte da exposição chamada Cadafalso. Tem o desenho de uma menina abaixo de um olho aparentemente chorando. Em seu lado direito há um corpo de um homem nu com o pênis ereto. A legenda abaixo diz: "o machismo mata violenta humilha".
Segundo a artista e a exposição, antes de fazer uma apologia à pedofilia, o quadro faz exatamente o inverso - uma crítica e uma denúncia aos abusos sexuais de que as crianças são vítimas.

De mesma forma, vários deputados também provocaram as autoridades indignados pela apologia à depravação e à pedofilia. Em visita à exposição, a polícia apreendeu o quadro exposto.

De outro lado, o Secretário do Município e o Promotor repreenderam a ação policial e disseram que teria sido de melhor tom esperar um possível mandado. Após verificar a obra, o promotor entendeu que isso era uma babaquice ultra-conservadora e ordenou que o quadro retornasse à exposição, "cuspindo na cara da família campo-grandense", para usar as palavras da Direita-MS.
Simultaneamente, os deputados evangélicos pastor Marco Feliciano e Pastor Takayama, Arolde de Oliveira, Lincoln Portela, Marcos Soares e Luciano Braga foram fazer uma inspeção no Museu Nacional Honestino Guimarães com uma exposição sobre a Ditadura Militar chamada Não Matarás após, segundo eles, terem recebido uma "denúncia" de uma mãe que alegou ter ficado incomodada ao levar o filho menor de idade ao espaço cultural e se deparar com imagens de corpus nus. Depois de ver as obras e ouvir as explicações de um funcionário, os parlamentares concluíram que não havia qualquer motivo para contestar a exposição.


Para o diretor do Museu Nacional, o artista plástico Wagner Barja, o simples fato de uma comissão sair da Câmara para “inspecionar” um espaço cultural é preocupante. “No meu entender, um museu existe para as pessoas entrarem e saírem diferentes, pensando em alguma coisa, assim como num templo religioso, que tem o mesmo propósito. Os propósitos são distintos, mas temos em comum o objetivo de melhorar as pessoas. Museu tem linguagem subjetiva. A exposição tem caráter político, mas não acusamos ninguém, mostramos uma interpretação livre dos artistas de um tempo do país. Não trabalhamos com censura.

Barja diz que os deputados não seriam atendidos se pedissem o cancelamento da exposição ou tentassem censurá-la. “Nem por mim nem pela secretaria de Cultura do Distrito Federal, que é quem me respalda para fazer esse trabalho. É diferente de uma outra instituição financeira que tem dinheiro envolvido. Não é por descontentamento de um ou outro que se fecha uma exposição. O museu é um serviço público. A gente vive em uma democracia, pelo menos que eu saiba”.

Em Agosto de 2018, o vereador de Sorocaba, Pastor Luis Santos acusou a obra Femme Maison da artista Panmela Castro na 2ª edição do Frestas – Trienal de Artes do Sesc Sorocaba de expor o que ele interpretou como uma genitália feminina. Protocolou requerimento solicitando à prefeitura a remoção da pintura. Em nota, o Sesc informou que a obra faz parte de um projeto premiado de Panmela que vai integrar o futuro Museu de Arte Urbana Contemporânea de Berlim, frisando que a obra não será apagada.

A Prefeitura de Sorocaba, através do secretário de Cultura e Turismo Werinton Kermes, respondeu dizendo que as imagens têm a mesma temática e questionam o papel e espaço da mulher na sociedade. "A pasta recebeu com tristeza e indignação o requerimento do vereador e informa que a luta é para que a livre expressão artística não seja cerceada.









Do outro lado do oceano, contudo:


Artista holandês Joep Van Lieshout diante da obra Domestikator, exposta no pátio externo do Beaubourg, Centro Pompidou












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